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5 - Harry Potter e a Ordem da Fênix

Foto do escritor: Gabriely Di Folco RochaGabriely Di Folco Rocha

Atualizado: 5 de nov. de 2020

ALERTA DE SPOILERS!


Harry Potter e a Ordem da Fênix é o quinto e maior livro da saga Harry Potter, da britânica J.K.Rowling. Em 702 páginas memoráveis, observamos agora um adolescente de 15 anos e com dores cada vez mais profundas.

Foi publicado pela primeira vez em junho de 2003, Inglaterra, pelas editoras Bloomsburry e Scholastic sob o título Harry Potter and the Order of the Phoenix. Na época, se tornou o livro mais vendido da história com mais de cinco milhões de cópias vendidas nas primeiras 24 horas do lançamento. Desde então já vendeu mais de 55 milhões de cópias e ganhou diversos prêmios, inclusive o British Book Awards.

A obra é tão bem escrita que cada mínima ação é dotada de significado, e agora já podemos ver melhor algumas das dicas escondidas nos últimos volumes. Aqui, pela primeira vez, vivenciamos um dos momentos dos marotos, vemos as relações românticas de Harry prosperarem e ficamos cara a cara com o luto de alguém íntimo.

Muitos estigmas pairam sobre a saga Harry Potter, um mais absurdo que o outro. Me perdoem, mas não acho que meu tempo seria bem empregado respondendo quem o menospreza por ser voltado para o público infanto-juvenil: vocabulário extenso, temas profundos e enredo bem construído falam por si. Quanto aqueles que acusam J.K. de satanismo, gostaria de dizer que obras que celebram perdão (Rabicho), confiança (Dumbledore), amizade e valentia (Rony, Hermione, Harry, Luna, Neville e Gina), corujas e vassouras fazem mais bem do que mal.

O parecer de especialistas foi, em geral, positivo, mas para o bem ou para o mal, J.K. decididamente atraiu os holofotes. Para New York Times, John Leonard (famoso crítico até 2008) começou sua análise dizendo: “A Ordem da Fênix começa devagar, reúne velocidade e depois dá uma manobra, com cambalhotas, para sua conclusão frenética... O quanto mais Harry cresce, melhor Rowling fica.’ Concordo com ele, mas acrescentaria que, mesmo as partes pacatas são essenciais e formam algo muito maior.

O mesmo crítico também censura o ‘mesmo Malfoy de sempre’ e um ‘Voldemort previsível’, dizendo que cada livro precisa de vilões secundários. Na minha opinião, esse livro ajuda na construção d’Àquele-que-não-deve-ser-nomeado ao mostrar na prática seus ardis silenciosos e visão de futuro que o leva a aceitar a ligação com o Harry, pensando em valer-se disso. A única coisa que o atrapalha é aquele grande furo no plano de Dumbledore...

Quanto à Umbridge, concordo que ela traz certa elegância à narrativa, mas é tão odiosa e onipotente nesse volume que não a chamaria de secundária. Discordo que cada número precise de alguém como ela, mas acredito que sua presença justamente agora mostra como o mundo bruxo não é maniqueísta.

Além disso, J.K. sempre arranja espaço para novos questionamentos. Uma coisa que só notei lá pela 5° vez lendo é que Harry demora a ver os Testrálios, o que teoricamente deveria ter acontecido logo que ele 'viu a morte de perto', em junho. Já tinha aceitado que a morte dos pais dele não contava, afinal ele era muito novo. Mas a dúvida continuava, insistente. Refleti sobre isso por um tempo, vi alguns fóruns e outras opiniões.

Minha teoria preferida diz que essa morte foi tão profunda, irreal e repentina que ele não conseguiu absorver tão rapidamente. Assim, ele demorou semanas até compreender toda a amplitude da perda. Já Luna, mesmo tendo perdido a mãe aos 8 anos, é intuitiva e espiritual, logo vê esses símbolos de uma jornada para outra dimensão muito mais rapidamente.

Draco Malfoy continua, de fato, o mesmo. Egoísta, fútil e covarde, ele mostra que não tem amigos, mas capangas, e não tem personalidade senão o que reproduz da família. Sendo assim, ele não é mau, mas impotente. Portanto, não é um problema que ele não ‘evolua’ nesse livro, mas mostra a influência que a família tem sobre o indivíduo, a coercitividade que não significa maldade - talvez tolice - e também que quem se é na adolescência é uma parte da sua personalidade, mas não toda ela; é o começo da redenção dos Marotos.

Segundo a autora, o livro é "muito mais obscuro" do que os anteriores. Eu concordo plenamente, afinal, o mundo não está dividido entre bons e comensais da morte.

Afora temas recorrentes, tais como lealdade e coragem, vemos aqui uma maior tensão ligada aos exames, ansiedade, rebeldia, ressentimento, indiferença, luto e até mesmo os mistérios inerentes à existência.

Aqui, temos os laços de empatia com Harry reforçados por uma sensação que todos temos ao menos uma vez na vida. A certeza de que tudo dará certo, que tudo foi checado, pesado e medido, e se está no caminho inegavelmente certo, como com o Ford Anglia, no livro 2. E então, como um degrau perdido, tudo desmorona de súbito, e se percebe a tolice. Com consequências como a perda, a culpa é inevitável.

Harry tem um problema de hormônios acentuado pela exclusão desse ano. O ministério passa a intervir em Hogwarts. Alguém próximo a Harry se vai para sempre. Parece que o Lorde da Trevas não está agindo: por quê?

Em meio a esse turbilhão, só parece clara a necessidade de se rebelar.

Logo no começo, notamos que algo está errado – ‘Dementóides’ em Little Whinging?! E essa sensação de exterioridade só aumenta. Você-sabe-quem pode estar agindo na surdina, e sendo ignorado pelo mundo bruxo, mas com toda certeza algo mudou, e como temia o Chapéu Seletor, essa ruína parece vir de dentro.

“Embora condenado a separá-los
Preocupa-me o erro de sempre assim agir
Preciso cumprir a obrigação, sei
Preciso quarteá-los a cada ano
Mas questiono se selecionar
Não poderá trazer o fim que receio.
Ah, conheço os perigos, os sinais
Mostra-nos a história que tudo lembra,
Pois nossa Hogwarts corre perigo
Que vem de inimigos externos, mortais
E precisamos nos unir em seu seio
Ou ruiremos de dentro para fora”
 

Amo tanto esse livro que, se continuasse, provavelmente daria muitos spoilers (se já não dei alguns). Portanto, me contentarei em falar sobre alguns dos maiores mistérios da bruxidade: aqueles que são estudados nas entranhas do Ministério pelos Inomináveis.

A grande astúcia de Rowling, nesse livro, para mim, são as metáforas do Departamento de Mistérios. Atrás de cada uma das 12 portas esconde-se uma incógnita, não apenas para os bruxos, mas para nós, leitores:

  • O futuro (profecias)

“– Como pode dizer uma coisa dessas? – Hermione o interpelou. – Depois de termos acabado de descobrir que existem profecias verdadeiras?”

  • O tempo (ovo que se torna beija-flor)

“Flutuando ali, na correnteza luminosa, havia um minúsculo ovo que brilhava como uma joia. Quando subia, o ovo se abria e dele emergia um beija-flor, que era impelido para o alto, mas ao ser apanhado pela corrente de ar voltava a molhar e amarrotar as penas, e quando chegava ao fundo do vidro encerrava-se mais uma vez em seu ovo.”

  • O universo (sala dos planetas)

“[...] uma sala escura cheia de planetas; era um lugar muito esquisito, parte do tempo ficamos só flutuando no escuro...”

  • O amor (sala trancada)

“– Há uma sala no Departamento de Mistérios – interrompeu-o Dumbledore – que está sempre trancada. Contém uma força mais maravilhosa e mais terrível do que a morte, do que a inteligência humana, do que as forças da natureza. E talvez seja também o mais misterioso dos muitos objetos de estudo que são guardados lá.”

  • A mudança (giro das salas)

“Mas havia umas doze portas ali. Enquanto estava olhando para as portas defronte, tentando resolver qual seria a certa, ouviu-se um ribombar prolongado e as velas começaram a se deslocar para o lado. A sala circular estava girando.”

  • O pensamento (cérebros, o conhecimento e a sede por ele)

“Tremeluzindo fantasmagoricamente, os cérebros apareciam e desapareciam flutuando nas profundezas do líquido verde, lembrando couves-flores lodosas.”

  • A morte (sussurros detrás do véu)

“No lugar de uma cadeira com correntes, porém, havia um estrado no centro do poço e sobre ele um arco de pedra que parecia tão antigo, rachado e corroído que Harry se admirou que ainda se sustentasse em pé. Sem se apoiar em parede alguma, o arco estava fechado por uma cortina ou véu preto esfarrapado que, apesar da total imobilidade do ar frio circundante, esvoaçava muito levemente como se alguém o tivesse acabado de tocar.”


Com tantos mistérios a serem desvendados tão vivamente, só posso agradecer por essa obra-prima de J.K.Rowling e...ler a próxima!

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