ALERTA DE SPOILERS!
![](https://static.wixstatic.com/media/bec280_a25903ce9edc4cc0b1ad13dbb45cce67~mv2.jpg/v1/fill/w_560,h_695,al_c,q_85,enc_auto/bec280_a25903ce9edc4cc0b1ad13dbb45cce67~mv2.jpg)
Harry Potter e a Ordem da Fênix é o quinto e maior livro da saga Harry Potter, da britânica J.K.Rowling. Em 702 páginas memoráveis, observamos agora um adolescente de 15 anos e com dores cada vez mais profundas.
Foi publicado pela primeira vez em junho de 2003, Inglaterra, pelas editoras Bloomsburry e Scholastic sob o título Harry Potter and the Order of the Phoenix. Na época, se tornou o livro mais vendido da história com mais de cinco milhões de cópias vendidas nas primeiras 24 horas do lançamento. Desde então já vendeu mais de 55 milhões de cópias e ganhou diversos prêmios, inclusive o British Book Awards.
A obra é tão bem escrita que cada mínima ação é dotada de significado, e agora já podemos ver melhor algumas das dicas escondidas nos últimos volumes. Aqui, pela primeira vez, vivenciamos um dos momentos dos marotos, vemos as relações românticas de Harry prosperarem e ficamos cara a cara com o luto de alguém íntimo.
Muitos estigmas pairam sobre a saga Harry Potter, um mais absurdo que o outro. Me perdoem, mas não acho que meu tempo seria bem empregado respondendo quem o menospreza por ser voltado para o público infanto-juvenil: vocabulário extenso, temas profundos e enredo bem construído falam por si. Quanto aqueles que acusam J.K. de satanismo, gostaria de dizer que obras que celebram perdão (Rabicho), confiança (Dumbledore), amizade e valentia (Rony, Hermione, Harry, Luna, Neville e Gina), corujas e vassouras fazem mais bem do que mal.
O parecer de especialistas foi, em geral, positivo, mas para o bem ou para o mal, J.K. decididamente atraiu os holofotes. Para New York Times, John Leonard (famoso crítico até 2008) começou sua análise dizendo: “A Ordem da Fênix começa devagar, reúne velocidade e depois dá uma manobra, com cambalhotas, para sua conclusão frenética... O quanto mais Harry cresce, melhor Rowling fica.’ Concordo com ele, mas acrescentaria que, mesmo as partes pacatas são essenciais e formam algo muito maior.
O mesmo crítico também censura o ‘mesmo Malfoy de sempre’ e um ‘Voldemort previsível’, dizendo que cada livro precisa de vilões secundários. Na minha opinião, esse livro ajuda na construção d’Àquele-que-não-deve-ser-nomeado ao mostrar na prática seus ardis silenciosos e visão de futuro que o leva a aceitar a ligação com o Harry, pensando em valer-se disso. A única coisa que o atrapalha é aquele grande furo no plano de Dumbledore...
Quanto à Umbridge, concordo que ela traz certa elegância à narrativa, mas é tão odiosa e onipotente nesse volume que não a chamaria de secundária. Discordo que cada número precise de alguém como ela, mas acredito que sua presença justamente agora mostra como o mundo bruxo não é maniqueísta.
Além disso, J.K. sempre arranja espaço para novos questionamentos. Uma coisa que só notei lá pela 5° vez lendo é que Harry demora a ver os Testrálios, o que teoricamente deveria ter acontecido logo que ele 'viu a morte de perto', em junho. Já tinha aceitado que a morte dos pais dele não contava, afinal ele era muito novo. Mas a dúvida continuava, insistente. Refleti sobre isso por um tempo, vi alguns fóruns e outras opiniões.
Minha teoria preferida diz que essa morte foi tão profunda, irreal e repentina que ele não conseguiu absorver tão rapidamente. Assim, ele demorou semanas até compreender toda a amplitude da perda. Já Luna, mesmo tendo perdido a mãe aos 8 anos, é intuitiva e espiritual, logo vê esses símbolos de uma jornada para outra dimensão muito mais rapidamente.
Draco Malfoy continua, de fato, o mesmo. Egoísta, fútil e covarde, ele mostra que não tem amigos, mas capangas, e não tem personalidade senão o que reproduz da família. Sendo assim, ele não é mau, mas impotente. Portanto, não é um problema que ele não ‘evolua’ nesse livro, mas mostra a influência que a família tem sobre o indivíduo, a coercitividade que não significa maldade - talvez tolice - e também que quem se é na adolescência é uma parte da sua personalidade, mas não toda ela; é o começo da redenção dos Marotos.
Segundo a autora, o livro é "muito mais obscuro" do que os anteriores. Eu concordo plenamente, afinal, o mundo não está dividido entre bons e comensais da morte.
Afora temas recorrentes, tais como lealdade e coragem, vemos aqui uma maior tensão ligada aos exames, ansiedade, rebeldia, ressentimento, indiferença, luto e até mesmo os mistérios inerentes à existência.
Aqui, temos os laços de empatia com Harry reforçados por uma sensação que todos temos ao menos uma vez na vida. A certeza de que tudo dará certo, que tudo foi checado, pesado e medido, e se está no caminho inegavelmente certo, como com o Ford Anglia, no livro 2. E então, como um degrau perdido, tudo desmorona de súbito, e se percebe a tolice. Com consequências como a perda, a culpa é inevitável.
Harry tem um problema de hormônios acentuado pela exclusão desse ano. O ministério passa a intervir em Hogwarts. Alguém próximo a Harry se vai para sempre. Parece que o Lorde da Trevas não está agindo: por quê?
Em meio a esse turbilhão, só parece clara a necessidade de se rebelar.
Logo no começo, notamos que algo está errado – ‘Dementóides’ em Little Whinging?! E essa sensação de exterioridade só aumenta. Você-sabe-quem pode estar agindo na surdina, e sendo ignorado pelo mundo bruxo, mas com toda certeza algo mudou, e como temia o Chapéu Seletor, essa ruína parece vir de dentro.
“Embora condenado a separá-los
Preocupa-me o erro de sempre assim agir
Preciso cumprir a obrigação, sei
Preciso quarteá-los a cada ano
Mas questiono se selecionar
Não poderá trazer o fim que receio.
Ah, conheço os perigos, os sinais
Mostra-nos a história que tudo lembra,
Pois nossa Hogwarts corre perigo
Que vem de inimigos externos, mortais
E precisamos nos unir em seu seio
Ou ruiremos de dentro para fora”
![](https://static.wixstatic.com/media/bec280_eaf740cc6c914bc3ba8475da2c9638a6~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_735,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/bec280_eaf740cc6c914bc3ba8475da2c9638a6~mv2.jpg)
Amo tanto esse livro que, se continuasse, provavelmente daria muitos spoilers (se já não dei alguns). Portanto, me contentarei em falar sobre alguns dos maiores mistérios da bruxidade: aqueles que são estudados nas entranhas do Ministério pelos Inomináveis.
A grande astúcia de Rowling, nesse livro, para mim, são as metáforas do Departamento de Mistérios. Atrás de cada uma das 12 portas esconde-se uma incógnita, não apenas para os bruxos, mas para nós, leitores:
O futuro (profecias)
“– Como pode dizer uma coisa dessas? – Hermione o interpelou. – Depois de termos acabado de descobrir que existem profecias verdadeiras?”
O tempo (ovo que se torna beija-flor)
“Flutuando ali, na correnteza luminosa, havia um minúsculo ovo que brilhava como uma joia. Quando subia, o ovo se abria e dele emergia um beija-flor, que era impelido para o alto, mas ao ser apanhado pela corrente de ar voltava a molhar e amarrotar as penas, e quando chegava ao fundo do vidro encerrava-se mais uma vez em seu ovo.”
O universo (sala dos planetas)
“[...] uma sala escura cheia de planetas; era um lugar muito esquisito, parte do tempo ficamos só flutuando no escuro...”
O amor (sala trancada)
“– Há uma sala no Departamento de Mistérios – interrompeu-o Dumbledore – que está sempre trancada. Contém uma força mais maravilhosa e mais terrível do que a morte, do que a inteligência humana, do que as forças da natureza. E talvez seja também o mais misterioso dos muitos objetos de estudo que são guardados lá.”
A mudança (giro das salas)
“Mas havia umas doze portas ali. Enquanto estava olhando para as portas defronte, tentando resolver qual seria a certa, ouviu-se um ribombar prolongado e as velas começaram a se deslocar para o lado. A sala circular estava girando.”
O pensamento (cérebros, o conhecimento e a sede por ele)
“Tremeluzindo fantasmagoricamente, os cérebros apareciam e desapareciam flutuando nas profundezas do líquido verde, lembrando couves-flores lodosas.”
A morte (sussurros detrás do véu)
“No lugar de uma cadeira com correntes, porém, havia um estrado no centro do poço e sobre ele um arco de pedra que parecia tão antigo, rachado e corroído que Harry se admirou que ainda se sustentasse em pé. Sem se apoiar em parede alguma, o arco estava fechado por uma cortina ou véu preto esfarrapado que, apesar da total imobilidade do ar frio circundante, esvoaçava muito levemente como se alguém o tivesse acabado de tocar.”
Com tantos mistérios a serem desvendados tão vivamente, só posso agradecer por essa obra-prima de J.K.Rowling e...ler a próxima!
Comments