Sentia-se vazia de tão cheia, sozinha. Os pensamentos corriam e se amontoavam na prisão que era sua cabeça. Deviam é estar lutando, pela loucura que a assomava!
Aqueles dias que passavam estavam indo rápido demais. Não era ela que tinha se prometido aprender sapateado e francês? Não mais importava. Pessoas estavam morrendo, de doença e fome. E ela estava ali, com um livro pendente na mão e a cabeça que não permitia lê-lo.
Era um dos poucos momentos de relaxamento a qual ela se permitia. Afinal, as aulas online e suas centenas de listas pessoais não davam trégua. Era uma pena que sua mente não os aproveitasse. E era egoísta sentir pena.
O sol começava a deitar-se, pintando o céu com cores outonais, debochando daquele ser atrapalhado. A brisa era tão boa que somente um louco não desejaria parar um pouco com uma xícara fumegante e um bom livro.
E agora sentia-se louca. Lembrava-se das metáforas de Saramago, onde os cegos somos nós, que em perigo e angustiados, pensamos apenas em nós. Reconhecer o horror daquilo tudo parecia seu último instinto lúcido.
Riu. Riu como louca, porque agora sabia que era. A mente, confusa, era agora uma canção. Não desesperada, mas uma canção de esperança. Ali, o apartamento não queria fechar-se sobre ela, engoli-la, mas cantava também.
Ela sorriu para o sol, pedindo que levasse aquela mensagem. Sentiu que, se todos entendessem o caos que estava o mundo e quisessem mudá-lo...se todos fossem loucos e rissem da ‘lucidez’ do lado bom, ajeitariam o mundo, juntos.
E o sol sorriu para ela.
![](https://static.wixstatic.com/media/73ca74321d33442bb390fa93ba1f569f.jpg/v1/fill/w_890,h_593,al_c,q_85,enc_auto/73ca74321d33442bb390fa93ba1f569f.jpg)
Lembrei de "O Mito da Caverna", de Platão: aqueles que ousam questionar os paradigmas da realidade socialmente (im)posta são considerados insanos e devem ser tratados como tal. Felizes os que ousam! Que eles se multipliquem para que consigam mostrar aos demais que a luz do Sol está lá fora e devemos deixá-la entrar, para que nossa luz própria reluza como deve reluzir. Assim, conseguiremos corrigir nossa rota e aproveitar da harmonia que tanto tememos conquistar. Já é tempo. Cabe a cada um de nós, contudo, encontrar o equilíbrio entre o que podemos alcançar e o que vai além: concentrar nossas energias nisso nos proporcionará momentos de indelével felicidade e bem estar, e viabilizará que estendamos nosso alcance, progressivamente. Comecemos, portanto,…